O primeiro beijo

 

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Durante o descontraído passeio a pé por aquele local que não percorria há tanto tempo, olhou para a sua esquerda e reparou que os pinheiros ainda lá estavam! E isso fê-lo recuar alguns anos no espaço de nada – que giro – pensou, foi ali, à sombra de um daqueles pinheiros que tinha dado o seu primeiro beijo.

E isso espoletou outras recordações que o fizeram sorrir.

Começou por se recordar que sempre tinha sido um atraso de vida relativamente ao sexo feminino, por exemplo durante o ensino preparatório teve a primeira namorada, chamava-se Isabel e durante um período de tempo passavam os intervalos das aulas a passear de mão dada, só isso, nem um beijinho sequer... e eram namorados!

Não conteve o riso, mas aquela memória soube-lhe bem.

Mais tarde, no verão de 1990, então com 16 anos, tinha ali passado as férias com os seus pais. Malta da sua idade para o acompanhar não existia, ou eram muito novos, ou eram muito velhos e foi assim por força das circunstâncias que começou a dar-se com uma rapariga de 22 anos, 6 anos de diferença nessas idades é muito, mas a coitada deveria estar com o mesmo problema (só existiam crianças e velhos por ali), inicialmente talvez por compaixão, começou a falar com a criança mais crescida da zona, ele mesmo, mas curiosamente deram-se bem.

O verão, tão propicio a amores fugazes durante a adolescência, teve o seu efeito nas férias daqueles dois.

Decidiu aproximar-se dos pinheiros mansos, sentou-se numa pedra grande à sombra de um deles e deixou a memória guiá-lo.

Ela chamava-se Maria João, mas ele tratava-a só por João, lembra-se que das primeiras vezes em que achou ter percebido uma tentativa de aproximação por parte dela, pensou que fosse imaginação, ao fim e ao cabo ela era muito gira, aos seus olhos de garoto era uma mulher feita, porque motivo uma rapariga tão vistosa e bonita se ia atirar a um miúdo com 16 anos?

Até que numa tarde com demasiado calor para se estar na praia, foram passear e sentaram-se naquela mesma sombra.

Caraças, as lembranças que lhe ocorriam colocaram-no a rir-se sozinho naquele mesmo local tantos anos depois, afinal de contas não deve ter acontecido a muitos rapazes de 16 anos (e tímidos) levarem um xeque-mate daqueles!

Ao fim de uns minutos de conversa e brincadeiras cúmplices, a desgraçada da miúda largou a bomba: 
 
Olha lá, ou eu não te digo mesmo nada enquanto mulher, ou então és mesmo parvo de todo, por isso, ou dás-me um beijo ou bazas daqui!

Ele escolheu beijá-la, aquele xeque-mate esteve longe de ser um contexto romântico, mas no caso o amor também não existia, poderá mesmo dizer-se que para ele foi mais por curiosidade e excitação de viver coisas novas. O resto das férias foram bonitas e loucas, incluíram beijos, abraços, encontros às escondidas, corações acelerados, promessas tolas... depois chegou o outono, viviam longe um do outro, não existiam telemóveis e nunca mais se viram.

Levantou-se, passou a mão pelo tronco da árvore mais próxima e concluiu mentalmente – acho que ao envelhecer ficamos parvos!

 

Ficção
25.4.21
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