A influência das religiões na sociedade

 

Photo by Cassiano K. Wehr on Unsplash

Esta última semana foi dura!

O embate mais duro foi a morte inesperada do meu sogro e por muito que eu veja a morte de uma forma diferente da maioria das pessoas, é sempre uma separação, uma ausência que passa a permanente durante os anos que cá andarmos.

Mas este episódio desagradável, revelou-se só o inicio de acontecimentos fora do comum, dando o pontapé de saída para a reflexão que irei colocar nestas linhas.

Primeiro:

Não fazia ideia da influência que a Igreja Católica ainda têm por aí, mas explico-me:

O meu sogro era ateu. Obviamente respeitava a forma de pensar de cada um e não tinha absolutamente nada contra alguém que fosse crente (católico ou outra religião).

Já se falarmos sobre a Igreja Católica enquanto instituição, o caso muda de figura. Era bastante crítico e tinha muita lógica nos argumentos que utilizava.

Eu embora não tenha nenhuma religião não sou ateu, mas concordo com a maioria do que ele dizia sobre a Igreja Católica (instituição) e sobre as beatas presentes nesses meandros.

No entanto, confesso que julgava algumas coisas que ele criticava como sendo algo de exagerado... esta semana provou-se que eu estava enganado!

Contexto:

Pequena aldeia situada em Trás-os-Montes, a pouca população é na sua esmagadora maioria católica.

Vive-se numa realidade alternativa onde o presidente da junta é o Sr. Presidente, tendo instituindo localmente uma espécie de regime político ditatorial dentro da democracia portuguesa. Ali reina o quero, posso e mando.

Dificuldades sentidas:

Aquele cemitério nunca teve um funeral sem padre, onde o corpo nem sequer fosse velado na igreja, sem missa, nem qualquer outro ritual católico.

De início resistiram, pois como chegaram a questionar:

Então mas é possível fazer-se um funeral sem padre?
Depois lá perceberam que sim, já que os infiéis dos ateus, Testemunhas de Jeová, Muçulmanos ou outra gentinha de segunda classe similar também costumam ter funeral. 😏

Passado este primeiro embate de cariz religioso, veio a junta de freguesia informar que o preço a pagar aos coveiros era muitíssimo mais alto do que em qualquer outro local, com a agravante de não passarem factura e tinha de ser em dinheiro vivo, uma forma muito pouco convencional de se vender um serviço.

Ai!

Não vos vou maçar com pormenores, mas após as filhas se terem chateado a sério, veio-se a descobrir que afinal os coveiros passam factura e o preço é o normal... aliás os coveiros nem sequer sabiam do negócio (negociata?!) da junta de freguesia.

Em bom português, aqueles gajos são uns valentes filhos da puta que se aproveitam de um momento de fragilidade para meter dinheiro ao bolso... e esta negociata é algo de muito grave.

Por fim, o funeral propriamente dito.

Foi como o morto pretendia e estávamos rodeados dos mais próximos (os que puderam ir), infelizmente também estávamos rodeados de uma quantidade considerável de beatas da aldeia que foram para lá dar bitaites porque se estava a fazer um funeral sem padre!

Pensava eu que o meu escritor favorito tinha as suas histórias desactualizadas, mas afinal, se o Eça de Queirós fosse vivo nos dias de hoje conseguia escrever histórias bastante similares às que escreveu no final do séc. XIX.

Em suma, viveu-se ali uma grande falta de respeito mascarada de religiosidade, que de religiosidade não tem nada.

Vamos pensar em conjunto:

Para uma pessoa que não acredite em nada, a morte é o fim, a pessoa que conheceu já só existe na memória e ali só está um corpo sem vida a decompor-se.

Por sua vez, para alguém que acredite que existe algo mais para além da morte, uma alma, consciência, espírito, energia, enfim, chamem-lhe o que quiserem, também já não está ali.

Ou seja, o funeral acima de tudo deve ser de acordo com a vontade e personalidade de quem partiu e não de acordo com a vontade ou superstição de quem ficou.

Não escrevi superstição por acaso, escrevi superstição pois é o que me parece a Religião Católica.

Com todo o respeito, mas parece-me que em muitas pessoas os rituais religiosos são mais uma forma de superstição de uma tradição que cheira a mofo, do que propriamente uma questão de fé. Mas quando é fé verdadeira, é uma fé cega, sem pensar, sem perceber o que se está a fazer e o motivo.

Parece-me que vivemos numa sociedade tolinha de todo, onde muitos de nós se regozijam por não pensar, onde a religião é só uma superstição, o futebol é uma religião, os que não pensam como eu são inimigos e quem tem responsabilidade política (mesmo que numa junta de freguesia) pode andar a fazer a merda que entender, servir-se em vez de servir, pois no fim aparece sempre um:

GOOOOLOOOOO
Para distrair, ou um amém oportuno...

É igual.

Textos avulso
8.1.23
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