À moda antiga

 

Abriu a caixa do correio, uma carta...

- Este mês as contas começam mais cedo - pensou com a frustração de quem tem as finanças sempre no limite.

No entanto, o envelope com a sua morada manuscrita transmitiu de imediato a ideia contrária.

Sem remetente! Uma carta com lacre? Isto já não se usa! Será uma forma de publicidade rebuscada por algum departamento de marketing?

Entrou em casa, tirou os sapatos, foi à cozinha buscar uma faca para quebrar o lacre e dirigiu-se à sala onde se sentou confortavelmente no sofá.

Cuidadosamente conseguiu descolar o envelope sem partir o lacre (era bonito demais), retirando do seu interior uma carta escrita à mão - mesmo à moda antiga - pensou.

Não conhecia a letra... decidiu ler.

Num jardim oculto, onde as palavras mais sussurram do que realmente falam, duas almas movem-se juntas numa dança de compreensão mútua que só elas conseguem captar.

As suas acções são como poemas ainda não escritos, em cada toque uma nota de uma melodia visível apenas para os olhos da alma. No silêncio onde segredos se escondem sob o manto da discrição, sonhos criam promessas de um refúgio tranquilo, acessível apenas através do entrelaçar delicado dos dedos.

Nesse lugar que é só nosso, onde o tempo faz uma pausa e o mundo externo se desfaz, visualizo uma dança lenta, onde cada passo traz novas descobertas, cada movimento desvenda caminhos escondidos, explorados não com pressa, mas com a reverência de quem acha um tesouro. 

Aí, no nosso esconderijo, o desejo de contar ao mundo transforma-se numa confissão silenciosa, ouvida apenas pelo vento, sentida nas vibrações que emanam do nosso abraço.

Enquanto o mundo lá fora continua ignorante, os nossos corpos sussurram histórias de um amor audacioso, histórias que o universo arquiva como segredos valiosos. 

Seguro no teu abraço, compreendo que o medo se desfaz na certeza de que somos o refúgio um do outro, o destino final de uma jornada que se faz não com os pés, mas com a alma.

Não estava assinada, mas não precisava, encostou a carta no seu peito e limitou-se a sentir as fibras da sua alma vibrando alegremente ao identificar um amor de épocas remotas.

Ficção
30.4.24
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